segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Tempo como moeda de troca

Com a devida vénia ao

Banco do Tempo: Um recurso para poupar dinheiro em época de crise

O Banco do Tempo do Lumiar, que em vez de dinheiro utiliza a hora como moeda, começou por ser procurado para combater a solidão, mas actualmente é um recurso para poupar dinheiro em serviços como a revisão do carro.

A única diferença que distingue este banco dos outros é o facto dos "clientes" em vez de depositarem dinheiro, depositam horas do seu tempo para satisfazer as necessidades de outros, recebendo em troca serviços de que precisam.

"Até há um ano, os serviços mais pedidos pelos membros do banco eram para combater a solidão, procurando saídas com pessoas que partilhavam os mesmos gostos por museus, teatro ou cinema. Agora estão a procurar um serviço para ajudar a resolver uma situação", disse à agência Lusa a coordenadora do Banco do Tempo do Lumiar (BTL), em Lisboa.

Como exemplos, Irene Freitas Silva apontou a revisão do carro, arranjos de costura, aulas de línguas estrangeiras, informática e pedidos de ajuda para organizar a contabilidade ou preencher formulários.

"São serviços que evitam que as pessoas gastem dinheiro", comentou, ressalvando que o banco "não tira trabalho a ninguém. Antes pelo contrário, estamos a fomentá-lo".

Para Irene Silva, é uma "tentativa saudável" de ultrapassar a crise: "faz crescer a sociedade de uma forma mais humana, mais solidária em que as pessoas partilham serviços, capacidades, competências e que os torna muito mais sociáveis e mais confiantes".

"É uma economia solidária, em que a moeda é o tempo, cada vez mais procurada", disse a responsável, sustentando que tem havido uma procura "exponencial" do BTL, que atinge já os 235 membros, "um número completamente impossível de gerir".

Para responder à procura, a agência do Lumiar criou um site (www.btlumiar.org) em que as pessoas trocam serviços online e criou ainda o BTL Júnior e o BTL Negócios.

"Chegámos à conclusão que, com tanta falta de trabalho e tantas pessoas a criar micro empresas, seria bom pôr as pessoas e as empresas a funcionar entre si", explicou.

Apesar da realidade vivida na agência do Lumiar, Teresa Branco, do movimento GRAAL, coordenador do banco central, disse à Lusa que o conceito do projeto
"não está a mudar".

Os serviços mais procurados continuam a ser a companhia para ir ao cinema ou dar um passeio, os pequenos arranjos domésticos, lições de inglês e informática
e culinária.

O que está a acontecer, segundo Teresa Branco, é que as instituições da comunidade onde os BT estão inseridos pedem ajuda à agência para a realização de alguns trabalhos, como a recolha de alimentos.

Na agência de Quarteira (Algarve) não tem havido alterações nos serviços requisitados, segundo Gilberta Alambre, uma das suas coordenadoras.

Nesta agência, com cerca de 90 membros, a maioria reformados, a procura continua a ser, principalmente, para "combater o isolamento e a solidão",
adiantou.

"A pessoa quando se inscreve diz logo aquilo que está disponível para dar e o que gostaria de receber", contou, adiantando que os serviços mais procurados são a companhia, a bricolage, a manicura e a culinária.

Também no banco da Foz (Porto), com 183 membros, os serviços mais requisitados são os que envolvem as relações sociais, em que a companhia lidera, e a valorização pessoal, com a procura crescente pelas aulas de informática e inglês.

Membro da agência da Foz há três anos, Ana Maria, 62 anos, tem dado horas do seu tempo a fazer companhia a doentes, a ir ao cinema e a conferências. Em troca, também opta pela companhia de alguém.

O que salienta desta "moeda de troca" é as amizades que se vão criando.


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