domingo, 15 de janeiro de 2012

Palestra proferida pela Dra Rubina Berardo - Dez.2011


Capacitação da mulher na construção de um mundo melhor; perspectivas económicas, sociais e de direitos humanos. Rubina Berardo
Tal como imagens valem mil palavras, também dados estatísticos conseguem sintetizar bem a realidade.
39,000 bebés meninas morrem por ano na China porque os seus pais não lhes deram o mesmo cuidado e atenção médica como aos meninos. Na Índia, meninas são menos prováveis de ser vacinadas que rapazes: como resultado, as raparigas entre 1 e 5 anos têm o dobro da probabilidade de morrer que um rapaz da mesma idade. Adiciona-se o facto que ecografias permitem descobrir o sexo do feto, o que aumenta o aborto no caso de ser menina. Ainda na Índia, o incendiar de noivas acontece a cada duas horas, para punir a mulher por um enxoval inadequado ou para eliminá-la para que o homem possa voltar a casar. Mas estas mortes raramente fazem notícia.
Amartya Sen, Prémio Nobel de Economia em 1998, desenvolveu estudos na área de desigualdade de género, calculando que mais de 100 milhões de mulheres estão ausentes do planeta, desaparecidas, vítimas do generocídio. Sen afirma que em circunstâncias normais, mulheres vivem mais que homens e que por isso há mais mulheres que homens na maioria do mundo. Contudo, em regiões onde raparigas sofrem um estatuto profundamente desigual dos rapazes, elas “desaparecem”. China tem 107 homens por cada 100 mulheres na sua população geral (e o fosso é ainda maior entre recém-nascidos) e na Índia, é 108/100. A implicação destes rácios, é que por volta de 107 milhões de mulheres estão ausentes do planeta hoje. Outros estudos calculam este gap entre 60 milhões e 107 milhões.
Estas estatísticas globais sobre o abuso de raparigas são mais que chocantes: são aterrorizadoras. As vítimas do generocídio são maiores que os homens que faleceram nos campos de batalha do século XX.
É fundamental preencher este vazio, capacitar as mulheres, para consequentemente desenvolver o mundo.
Muito do sofrimento dos mais pobres no mundo não deriva só da escassez de recursos mas também se deve à má distribuição desses parcos recursos, especialmente pelos homens das famílias. Nesse sentido, as Nações Unidas, o Banco Mundial, e diversas ONGs e Thinktanks evidenciam as potencialidades para o desenvolvimento através de apoio direto a mulheres e raparigas.
Mas a defesa da igualdade de géneros não é só uma luta nos países em desenvolvimento. A significativa melhoria da realidade no que toca a violência praticada contra mulheres em Portugal, é real. Contudo as 23 mulheres portuguesas vítimas mortais de violência doméstica em 2011 compõem um número que envergonha todos nós. A mulher continua a ser vítima preferencial no seu lar e nos palcos de guerra simplesmente devido ao seu género.
Nesse sentido é fundamental informar-se sobre o estado atual da igualdade de género na sociedade: regional, nacional e global. Feminismo é a manutenção da igualdade de género, e não uma qualquer busca pela supremacia feminina. Porque direitos têm que ser salvaguardados, senão corremos o risco de os corroer com as dificuldades dos tempos. Afinal, mais certo que avanços civilizacionais são os próprios retrocessos civilizacionais, ditados por necessidades financeiras, económicas e de segurança alimentar e humana.

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